terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Escritor Hermafrodita

Já dizia um ditado (clichê) que um homem para completar a sua vida deve ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Se formos parar para analisar esse raciocínio, perceberemos que essas três ações recairão justamente em uma única palavra: a vida. E por desinência eu acrescentaria outra: mãe. Ora, há vida nos filhos, nas árvores e nos livros; assim como a mãe que os gerou. A saber: a mulher, a natureza e o escritor.
Talvez alguém venha a discordar da afirmação do caráter hermafrodita do escritor, tem todo direito de o fazer, afinal sempre um ou outro gênero quer falar mais alto (Freud explica). Fica mesmo difícil imaginar um homem engravidar de si próprio e parir nove meses depois um filho.

Deixem-me explicar essa peculiar qualidade de quem escreve; a maternidade não é faculdade única das mulheres, é também do escritor. Antes que divaguem em discussões acaloradas e sigam outros caminhos; afirmo que escrever é não só ser pai, mas a própria mãe da obra.

E como saber que a vida foi tão generosa assim com o escritor, dando-lhe essas faculdades tão peculiares? Por que Deus foi tão caprichoso lhe presenteando com dois gêneros divinos e nobres? É simples, perguntem a quem escreve:
- Como nascem seus textos, seus livros enfim? Ouvirão deles que foi num dia ou uma noite qualquer; apaixonaram-se por uma ideia fixa que foi fertilizada em sua mente pela imaginação, aflorou repleta de luzes e caminhos; o coração a alimentou, e assim continuou crescendo em sua alma.

O escritor faz das palavras o leite da vida de seus filhos; alimento único que é entregue em sua boca pura, fazendo-lhe crescer a cada dia, página por página em sua vida incerta. Algum tempo depois, não suportando mais guardar aquela vida só para si, faz nascer ao mundo o filho seu. E, agindo como pai, ainda melhor, como mãe carinhosa, o escritor deseja ao seus flhos uma vida perfeita; e é por isso que para ele nunca morrerão. E é por isso também que no dia em que ele se for, os grandes filhos, duplamente órfãos, clamarão e chorarão, tornando-o imortal.

Quem escreve e gera um livro, o faz por amor, e não é amor simplório... É divino.

Nenhum comentário:

Postar um comentário