quarta-feira, 2 de março de 2011

A Palmeira

Como é linda e verdejante
Esta palmeira gigante,
Que se eleva sobre o monte!
Como seus galhos frondosos
S’elevam tão majestosos
Quase a tocar no horizonte!

Ó palmeira, eu te saúdo,
Ó tronco valente e mudo,

Da natureza expressão!
Aqui te venho ofertar
Triste canto, que soltar
Vai meu triste coração.

Sim, bem triste, que pendida
Tenho a fronte amortecida,

Do pesar acabrunhada!
Sofro os rigores da sorte,
Das desgraças a mais forte
Nesta vida amargurada!

Como tu amas a terra
Que tua raiz encerra,
Com profunda discrição;
Também amei da donzela

Sua imagem meiga e bela,
Que alentava o coração.

Como ao brilho purpurino
Do crepúsc’lo matutino
Da manhã o doce albor;
Também amei com loucura

Ess’alma toda ternura
Dei-lhe todo o meu amor!

Amei!... mas negra traição
Perverteu o coração
Dessa imagem da candura!
Sofri então dor cruel,
Sorvi da desgraça o fel,
Sorvi tragos d’amargura!
......................................

Adeus, palmeira! ao cantor

Guarda o segredo de amor;

Sim, cala os segredos meus!

Não reveles o meu canto,

Esconde em ti o meu pranto

Adeus, ó palmeira!... adeus!

(Primeira Poesia de Machado de Assis que foi impressa no Marmota Fluminense em 16 de janeiro de 1855. Não se pode dizer que o texto é excepcional, de fato não mesmo, mas vale o registro que Machado estava com 16 anos de idade e acabava de arrumar seu primeiro emprego em um jornal. Para quem é saudosista por ele como eu, achei até muito bom para um escritor tão juvenil).

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